Recordemos às mulheres que outrora fizeram valer a quebra de barreiras em busca de igualdade.
Segundo a a jornalista, escritora e militante antifascista, Maria Lamas, para o Diário de Notícias (https://www.dn.pt/sociedade/as-pioneiras-da-politica-que-fizeram-historia-em-portugal-13429169.html),:
"Em 1934, já sob a égide do Estado Novo, foi permitido o sufrágio
feminino, bem como a elegibilidade para a Assembleia Nacional e para a
Câmara Corporativa. Mas não para todas.
Apenas podiam votar e ser
eleitas mulheres com mais de 21 anos, solteiras com rendimento próprio
ou que trabalhassem, chefes de família e casadas com diploma do ensino
secundário ou que pagassem imposto predial.
Nesse mesmo ano, foram
eleitas as primeiras deputadas portuguesas, Maria Guardiola, Domitília
de Carvalho e Cândida Parreira, todas elas figuras caras à mais alta
hierarquia do regime.
No entanto, para vermos uma mulher num governo
teríamos de esperar quase 40 anos:
Aconteceria em 1970, quando a jurista Maria Teresa de Almeida Lobo se tornou subsecretária de Estado de Saúde e de Assistência."
Em 2021, as eleições autárquicas portuguesas serão realizadas a 26 de setembro.
Estarão em disputa nestas eleições autárquicas a eleição de 308 presidentes de câmaras municipais, os seus vereadores e assembleias municipais, bem como as 3091 assembleias de freguesia, das quais sairão os executivos das juntas de freguesia.
Segundo artigo de Liliana Matos Pereira para o Jornal OMinho ominho.pt https://ominho.pt/o-reforco-da-participacao-feminina-nas-autarquicas-2021/
"Em Braga temos pela primeira vez na História mais mulheres no executivo municipal que homens. Temos, na oposição, mais mulheres vereadoras. Temos uma Presidente da Assembleia Municipal.
Pela primeira vez na História temos também mais candidatas à Presidência da Câmara Municipal de Braga do que homens.
São cinco mulheres que disputam o cargo que nunca nenhuma outra mulher ocupou."
Novamente, as mulheres a quebrar barreiras em busca não de igualdade, mas de exercer seus direitos civis e políticos. Afinal, como buscar igualdade, se quem decide ainda são em sua maioria homens ou mulheres que ainda reproduzem visões do patriarcado?
"A
presidente da Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (CIG)
alertou, esta sexta-feira, que a pandemia tem afectado mais as mulheres
do que os homens, seja por terem um maior risco de infecção seja pela
perda de emprego."
“Não é por acaso que há mais mulheres infectadas do que homens. É natural, porque tem a ver com a sua exposição ao risco a que o trabalho de grande parte das mulheres obriga”, afirmou Sandra Ribeiro, que falava no webinar “Pilar Europeu dos Direitos Sociais”, organizado pelo Centro de Informação Europe Direct da região de Coimbra.". Fonte:https://www.publico.pt/2020/11/27/sociedade/noticia/covid19-comissao-alerta-mulheres-sao-afectadas-pandemia-1940972, em
Então, como podemos refletir sobre a participação das mulheres em diversos âmbitos e como não ouví-las sobre os mais variados temas, se são elas as mais afectadas quando ocorre uma mudança seja ela local ou global?
Este mês entrevistamos a Doutora Teresa Salomé Mota, candidata às autárquicas, para dar a conhecer a sua visão sobre diversos assuntos.
Sobre a sua trajectória profissional, a descrição vem em primeira pessoa, segundo ela :
"✅Comecei por ser professora de Geologia e Biologia no ensino secundário (a minha licenciatura é em
Geologia) e fui docente durante cerca de 18 anos (comecei a trabalhar com 21 anos).
✅Fiz doutoramento em História e Filosofia da Ciência e fui investigadora durante cerca de 15 anos em Lisboa
no Museu Nacional de História Natural e da Ciência e no Centro Inter-Universitário de História das Ciências e
da Tecnologia.
✅Em 2017, tornei-me sócia-gerente da empresa Geosite, dedicada a serviços de geologia, principalmente na área do património geológico e da geoconservação".
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Confiram a entrevista na íntegra:
geosmart.pt/elas
Qual(is)
o(s) principal(is) projetos da sua trajetória profissional ou
académica (ou pessoal) que gostaria de lembrar(poderia descrevê-lo ou
partilhar arquivos) ?
Resposta:
Pode dizer-se que a minha trajectória profissional é um bocadinho eclética para o habitual: comecei por ser professora de Geologia e Biologia no ensino secundário (a minha licenciatura é em Geologia) e fui docente durante cerca de 18 anos (comecei a trabalhar com 21 anos). Depois fiz um mestrado em Ciências do Ambiente, mas a dissertação já foi na área da História das Ciências.
Que foi o momento seguinte: fiz doutoramento em História e Filosofia da Ciência e fui investigadora durante cerca de 15 anos em Lisboa no Museu Nacional de História Natural e da Ciência e no Centro Inter-Universitário de História das Ciências e da Tecnologia. Entretanto, em 2017, fiquei com vontade de voltar a mudar e regressei a Braga, para onde tinha ido viver em 1989, e tornei-me sócia-gerente da empresa Geosite, dedicada a serviços de geologia, principalmente na área do património geológico e da geoconservação.
Sabemos
que neste momento está a dar um passo importante. Poderia falar sobre
esta situação e quais foram as suas motivações para dar tal passo?
Resposta:
Se esse passo diz respeito à mudança na área profissional, esta teve a ver com a precariedade na investigação e alguma vontade de não andar sempre a viajar entre Braga e Lisboa, ter duas casas; enfim, vontade de me aquietar.
Se a pergunta diz respeito ao meu envolvimento político-partidário, foi tudo um bocadinho rápido e não sei se tem interesse estar a descrever aqui, mas esse envolvimento derivou da vontade que já vinha sentindo de passar do pensamento à prática política ao mesmo tempo que, estando a mudar a minha vida profissional, tinha mais disponibilidade em termos de tempo. Isso entretanto acabou: estar profundamente envolvida num partido (faço parte da direcção do LIVRE) é quase um trabalho a tempo inteiro.
O que espera num futuro próximo para o seu País?
Resposta:
Espero muita coisa como toda a gente; não esperamos é todos o mesmo e ainda bem. Mas destaco: mais justiça social conseguida através, entre outras, de uma melhor redistribuição da riqueza; menos discriminação em todas as frentes (género, cor, etnia, e por aí fora); um aprofundamento da consciência e prática ecológicas que eu entendo que deve tentar descentrar do ser humano (não é fácil) e ter em conta todo o mundo vivo e não vivo. E espero isto para Portugal e para o mundo.
Sabemos que recentemente apresentou candidatura à câmara municipal de Braga pelo Partido Livre. Por quê este Partido?
Resposta:
Porque os pilares do LIVRE são princípios com os quais me identifico: a liberdade, a igualdade, a solidariedade, a ecologia, o socialismo, o europeísmo, o universalismo.
Recentemente
foi divulgado relatório europeu que alerta para risco de
“radicalização” da extrema-direita em Portugal. Na sua opinião, quais
fatores contribuem para esta situação?
Resposta:
A resposta a esta questão é muito complexa e considero que há muitos factores. Vou falar num que raramente é mencionado: o facto das pessoas viverem numa sociedade e um sitema económico, o capitalismo, que as levou à alienação da sua própria vida.
E esta alienação conduz a sentimentos de frustração e perda que são explorados por partidos e indivíduos que, mais ou menos acreditando naquilo que pregam, tentam obter poder. Mas a situação é, como disse, muito complexa e este é, acho eu, apenas um factor entre vários. ao combinar-se com esses outros factores chegamos ao momento presente em que assistimos ao ressurgimento de discursos de um ódio e violência que há muito pareciam ter desaparecido. Mas, ao que parece, estavam lá, apenas adormecidos.
Sabemos
que foi professora de Geologia/Biologia e investigadora em História da
Ciência, área em que também é doutora. Também é responsável por uma
empresa de serviços geológicos dedicada, em especial, à gestão e
conservação do património geológico. Tendo isto em conta acha que serão
necessárias ações para que situações de abandono ao património
geológico ou ao que diz respeito aos à aspetos naturais estão ser bem
abordadas em Portugal?
Resposta:
Há situações e situações, mas, no geral, acho que as questões ligadas à conservação dos bens naturais não têm sido uma prioridade - quando deveriam ser - de sucessivos governos, daí que não exista um pensamento estratégico sobre esta temática. E, sinceramente, há falta de geologia nisto tudo, o que tem graves implicações.
Basta pensar no ordenamento do território e no crescimento das nossas cidades em que é raro serem ouvidos as pessoas que trabalham em geologia. Depois são os deslizamentos, as cheias, a destruição na costa… e a mudança climática tem as costas largas. Na verdade, grande parte dos desastres que acontecem poderiam ter outro desfecho se numa verdadeira estratégia de conservação da natureza a geologia fosse tida em conta.
Na
descrição da sua candidatura diz: "A nível económico e social, entendo
que uma das prioridades da esquerda deve ser a implementação de medidas
que permitam uma maior distribuição da riqueza de modo a diminuir o
fosso existente entre ricos e pobres". Efetivamente quais tipos de ações
pensa que poderão contribuir para tornar isto possível?
Resposta:
Não sou especialista nas áreas que dizem respeito à redistribuição da riqueza, que na realidade é gerada por todos e não apenas por alguns, como é normal fazerem-nos crer. Mas algumas medidas defendidas pelo LIVRE são: testar e implementar um Rendimento Básico Incondicional e Universal; fomentar a economia local com apoio à criação de cooperativas; apostar na criação de moedas locais.
Não sou especialista nas áreas que dizem respeito à redistribuição da riqueza, que na realidade é gerada por todos e não apenas por alguns, como é normal fazerem-nos crer. Mas algumas medidas defendidas pelo LIVRE são: testar e implementar um Rendimento Básico Incondicional e Universal; fomentar a economia local com apoio à criação de cooperativas; apostar na criação de moedas locais.
Acha que é possível cativar mais jovens a interessar-se pela política?
Resposta:
Claro que sim. Jovens e menos jovens; é preciso é envolver mais os cidadãos e cidadãs nas decisões que lhes dizem respeito. E isso é particularmente relevante, até porque mais fácil de implementar quotidianamente, a nível local.
Do seu ponto de vista , qual foi o maior desafio enfrentado por Portugal nestes últimos 2 anos?
Resposta:
A atual situação de pandemia e a necessidade de resolver a dívida do país, que é uma circunstância que já vem de trás e que nos pesa muito dificultando ou mesmo impedindo fazermos melhor.
Qual (is) tipo de conteúdo(s) gostaria que fosse mais abordado nas redes sociais que segue?Acha que há muita desinformação nas redes sociais?
Resposta:
Não sou uma pessoa que tenha uma presença forte nas redes sociais e não estou assim em tantas. Não é nas redes que procuro informação e a desinformação que nelas existe não é um fenómeno idiossincrático, uma vez que a desinformação existe desde que existem meios de informação/comunicação, principalmente quando esses meios passaram a ser mais e mais massificados (jornais, rádio, m televisão).
A História está aí para nos mostrar isso. O que acontece é que as redes sociais têm uma abrangência enorme, o que leva a desinformação a ser, mas também a parecer, maior.
Como você vê o futuro (próximos 5 anos) para Braga?
Resposta:
Vejo o LIVRE a ter representação nos órgãos de poder autárquico e a contribuir para algo que Braga tem todas as possibilidades de ser: uma cidade mais ecológica, com menos assimetrias sociais e onde as pessoas se encontram para trabalhar para o bem comum.
Gostaria de deixar alguma mensagem para mulheres que estão a iniciar suas carreiras na política?
Resposta:
Poderia indicar o link da apresentação da sua candidatura?
Resposta:
https://www.facebook.com/tsalome1721
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Foi um orgulho realizar esta entrevista, um orgulho ainda maior ler e publicá-la.
GeoSmart *