Esta conversa com o Professor Gorki Mariano inaugurou a série "Fale com o Cientista" de forma brilhante, proporcionando uma visão inspiradora e informativa sobre a Geologia e as oportunidades futuras nas Geociências.
Confira a nossa conversa:
O que o motivou a escolher a Geologia como carreira, e como foi sua experiência na Universidade Federal de Pernambuco durante a graduação?
Meu pai me deu a ideia. A UFPE é minha casa de 1976-1980 como estudante e a partir de 1989 como professor. Uma experiência maravilhosa que somente o ensino público, gratuito e com qualidade proporciona. Na graduação a construção de um futuro alicerçada com amizades para a vida (Geologia, na época era uma entrada com 40 estudantes). Hoje temos duas entradas com 20 estudantes em cada.
Você teve a oportunidade de estudar fora do Brasil. Como sua formação na The University of Georgia influenciou sua carreira e suas pesquisas na área de Geociências?
Fiz mestrado 1982-1984 com tratamento de dados químicos em águas de poços e fontes do Estado da Georgia. aproximadamente 6000 análises, de um projeto National evaluation of Uranium resources - NURE). Tive o primeiro contato com computadores (main frame), um desafio e um aprendizado muito importante. Fiz doutorado de 1985-1988, diploma emitido em 1989. Trabalhei com um corpo granítico na cidade de Itaporanga na Paraíba. Esse granito é a localidade tipo da Associação Cálcio-alcalina de Alto Potássio. Saindo de hidrogeologia + geoquímica + estatística+ informática para petrologia Ígnea. Essa mudança foi muito importante para tornar-me professor de Geologia Geral da UFPE.
O que mais o fascina na Geologia e quais são algumas das descobertas ou contribuições mais significativas que você fez?
A Geologia dá uma visão ampla do planeta Terra. Desde a sua formação até o presente. Essa compreensão é única e nos transforma em admiradores dos processo que aconteceram durante a evolução da Terra em 4,5 bilhões de anos. O nosso trabalho com petrologia ígnea: A tese de doutorado e os trabalhos publicados sobre o Itaporanga e associação Cálcio-Alcalina de alto potássio; Em Geologia Estrutural a compreensão da Zona de Cisalhamento de Pernambuco ( mudamos o mapa geológico do Estado). Em Geodiversidade e Patrimônio Geológico, fomos pioneiros na implantação dessa área de pesquisa no nosso programa de Pós-graduação. Trabalhar com Geógrafos(as) e outros profissionais não geológicos e conseguir mostrar a beleza e importância da interação entre as diferentes áreas e aprendermos juntos.
A Província da Borborema é um foco importante do seu trabalho. O que torna essa região geologicamente significativa, e quais são alguns dos projetos que você está desenvolvendo atualmente lá?
Na Borborema trabalhamos inicialmente com granitos de idade Brasiliana (ca. 590m.a); depois com Anisotropia de susceptibillidade magnética (ASM) em granitos; um pouco de geologia estrutural em zonas de cisalhamento; e nos últimos 10 anos a geodiversidade. Utilização das feições geológicas para promover o desenvolvimento sustentável.
A Borborema possui rochas desde o Arqueano ao Recente. palco de vários eventos geológicos ao longo do tempo. Uma diversidade de feições geológicas muito importantes para a história do planeta. Marcadores (afloramentos) temporais da história evolutiva do planeta Terra. Marcadores da evolução de Gondwana; depois da sua quebra; da extinção dos dinossauros. Uma área muito rica de informações, com potencial para estudos constantes.
Você é também poeta e escritor. Como a sua paixão pela literatura se relaciona com sua carreira em Geociências? Como a geologia influencia a sua escrita ? Poderia deixar por escrito uma poesia para gente ?
Um pouco da história da Borborema, poesia, contata e cantada por granitos
REINO DAS PEDRAS
Granitos esquisitos
Deitam-se na terra
E sobem em serras
Porfiriticos
Feridos de negros enclaves
Ou xenólitos retorcidos
Equigranulares
Mesclados de feldspatos estelares
Finos Raquíticos, meninos
Mesoproterozóicos
Deformados, foliados, cisalhados
De baixo a alto ângulo cortados
Cariris Velhos...
Cariris Cansados de quase não existir T
entam não sucumbir
Ao peso de um milhão de anos
E chegam os Brasilianos
Jovens que são
Mesclados de sonho e ilusão
De comandar as falhas (zonas de cisalhamento)
Que presunção
Finalmente, enquanto continentes se separam
Surge um fresco e novo granito
E os pulsos não param Também se instalam riolitos
E, aqui, esta história acabo
Admirando o mar sobre o granito do Cabo
Granito do Cabo de Santo Agostinho com ca 102m.a que aflora nas praias belíssimas de Gaibu e Calhetas e é cortado por diques de diorito.
Como você vê o futuro das Geociências no Brasil e quais são as áreas que precisam de mais investimento e pesquisa?
Graças ao NORDESTE, as ciências como um todo tem uma nova fase de crescimento e investimento.
A geologia e as geociências como um todo vão prosperar. As pesquisas voltaram a ser financiadas e Universidades publicas respeitadas, Claro que precisamos de mais recursos e investimentos nas áreas de pesquisa básica; incluído mapeamento geológico.
O Brasil é um gigante com muitas áreas que carecem de mapeamento. As pesquisas realizadas nas instituições públicas são de fundamental importância na formação de recursos humanos e de aprimoramento do conhecimento do nosso país.